Interferências no Metrô. Fotos que fazem parte da exposição “Imagem Precária – Uma Poética da Distorção”, com curadoria de Afonso Rodrigues e trabalhos de 15 artistas.

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As fotografias de Interferências no Metrô foram produzidas em 1999, em diversas estações da linha metroviária de São Paulo, ao final do dia. As imagens analógicas (em filme 35 mm, P&B) sofreram alterações durante o processo de revelação em laboratório caseiro para que o resultado apresentasse rasuras. A redução no tempo de ação do líquido interruptor e no tempo de lavagem dos negativos, bem como o manuseio pouco cuidadoso da espiral na qual foram enrolados, provocaram fissuras e manchas nas matrizes fotográficas, visíveis nas imagens posteriormente ampliadas. À época da produção das fotografias, a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) proibia a realização de fotos no metrô paulistano.

A palavra ¨interferências¨ no título da série faz alusão às alteração nas normas do processo de revelação fotográfico e, consequenemente, no resultado estético decorrente deste processo. O termo refere-se também à interferência nas normas da companhia de trens.

Tanto a falta de foco como a presença de vultos indefinidos e demais interferências  estorvam, como o barulho dos trens. Sem os ruídos, a fotografia do ambiente subterrâneo do metrô seria muito silenciosa. Além disso, elementos como  os vultos, os brilhos metálicos e a indefinição conversam com o cansaço, a impessoalidade e a frieza inerentes à jornada de volta para casa, à vida urbana em geral, e à burocracia da CPTM.

Insular. Todos os caminhos levam a Moçambique

Insular é um ensaio fotográfico que aborda questões de natureza emocional e universal, como a passagem do tempo, o esquecimento, a alegria melancólica e o isolamento.

A série é composta por fotografias analógicas, realizadas em filmes preto e branco de 35 mm. Optou-se por filmes de sensibilidade elevada, para a obtenção de imagens com aspecto granulado. São fotos inspiradas na estética do neorrealismo no cinema italiano, mais especificamente no filme Umberto D, de Vittorio de Sica, em sua Roma do pós-guerra e no drama de abandono narrado na história.

A iluminação do sol a pino, os contrastes, a atmosfera de ruelas desertas à hora da sesta, o destaque das texturas, os espaços vazios, entre outros elementos presentes nas fotografias, estão situados em espaço e tempo delimitados. Trata-se da Ilha de Moçambique, território insular que foi a primeira capital do país africano e cuja dimensão é de 3 km de comprimento, não ultrapassando os 400 metros de largura. No tempo, situam-se nos anos de 2003 e 2004, já posteriores à guerra civil que assolou Moçambique (entre 1975 e 1992).

As imagens de Insular transparecem o processo vivido por um país heterogêneo, cuja identidade está sendo tecida a partir de um passado composto por histórias, influências e culturas que conformam uma camada a ser parcialmente descascada para a formação do novo. Mas, apesar dos limites de época e lugar, a série dialoga com a solidão inerente à existência, às experiências e aos sentimentos humanos. A ilha de Moçambique, com seu tamanho diminuto, abarca o mundo. E a criança solitária que passeia descalça por suas ruas ao meio dia é como cada ilha de nós.

Fotografias da série, acompanhadas de frames do filme Umberto D.:

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Cena de Umberto D.

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cena de Umberto D.

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cena de Umberto D.

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Cena de Umberto D.

O Vento

Cena de Umberto D.

Cena de Umberto D.

Versão completa de Umberto D. (1952):

Catálogo da exposição Insular, organizada com recursos provenientes do 1º Prêmio Funalfa de Fotografia

As 20 imagens que compõem a série foram impressas no formato 29,7 x 42 cm, em papel Baryta Photographique 310 gsm.